Oi,
Essas aí na foto somos nós, Gabriela e Ana Paula (e o Milu, que não assina esta newsletter, mas que é mencionado em algumas tantas cartas). Nós somos amigas desde o tempo da faculdade, nos conhecemos no longínquo ano de 2006 e de lá para cá muita coisa aconteceu. Já moramos no mesmo quarteirão, em bairros diferentes e em países diferentes. Teve também uma temporada de dois anos em que a Gabi estava em São Paulo, enquanto a Ana se aventurava pelo Planalto Central, período em que as Cartas foram idealizadas e postas em prática. Agora, voltamos a ser vizinhas.
As Cartas na Amoreira surgiram de um desejo muito grande que ambas temos de escrever. É também uma vontade de dar forma a todas as nossas conversas, de provocarmos uma à outra e descobrirmos o que podemos criar juntas.
Eu, Ana Paula, sou metida a fazer muitas coisas, mas tenho dificuldade de dizer que “sou” isso ou aquilo. Eu faço livros (edito e traduzo), crio bordados e tiro fotos. Às vezes desenhos uns rabiscos, de maneira bem tímida. E também escrevo.
Eu, Gabriela, assim como a Ana, faço um monte de coisas, mas estou sempre com a sensação de que não são suficientes. Pro Sr. Linkedin, eu diria que sou uma ilustradora, ceramista e educadora, e terminaria convidando você a conhecer meu trabalho no Instagram.
Muita coisa mudou na vida daquelas duas garotas recém-saídas do colegial que chegaram na faculdade de Letras cheias de planos e um pouco assustadas. Outras coisas seguem parecidas: temos muitos planos e seguimos um tanto assustadas. Entre mudanças e permanências, o que sempre esteve ali foi a nossa amizade. Essa é uma newsletter também sobre amizade. E sobre amizade entre duas mulheres.
Eu, Ana Paula, lembro que a Gabi e eu tínhamos alguns amigos em comum naquele começo de vivência acadêmica. Um dia, depois de uma assembleia estudantil com ânimos acalorados, nos juntamos ao grupo que, ao som de alfaias de um Maracatu, invadiu a sala do diretor da FFLCH contra uma das tantas iniciativas da USP de fazer parcerias com bancos privados. Na volta pra casa, fomos para o mesmo ponto de ônibus. Eu me lembro de olhar para ela e ficar curiosa, de ter tentado puxar papo e de que ela não deu muita bola para mim. Uns dias depois, Gabi foi simpática comigo no corredor da faculdade, o que eu achei estranho, mas fiquei feliz. A partir daí, começamos a nos ajudar nas aulas, assinar a lista de presença uma para a outra, fazer os trabalhos juntas e, assim, nos encontrando embaixo da amoreira perto da biblioteca, fomos descobrindo o gosto literário em comum e o que significava sermos amigas.
Eu, Gabriela, que tenho memória de peixe e que recorro sempre aos meus inúmeros diários pra me lembrar do passado, não posso fazer isso dessa vez porque justamente naquela época tive um lapso na minha prática e abandonei temporariamente a escrita. Quando tento me lembrar, os fatos estão todos embaralhados. A única coisa de que me recordo com bastante nitidez é a sensação de felicidade que eu tinha quando via que a Ana estava no banco embaixo da amoreira, me esperando pra matarmos juntas alguma aula do começo da manhã. Ali, enquanto falávamos sem parar, a menina insegura que eu era podia dizer o que realmente pensava e sentia sobre a vida e sobre os livros.
Essa é a história de como nos conhecemos, mas muitos capítulos rolaram desde então. Ao longo dessas quase duas décadas, a nossa amizade continuou sendo escrita. As inquietações do final da adolescência deram lugar aos desafios de entrar no mundo do trabalho e às complicações da vida adulta. A paixão pela literatura que descobrimos naquela época, assim como a vontade de viver em um mundo mais justo, permanecem. Ficaram também as inquietações e a vontade de colocar isso em palavras.
Por isso, agora, de forma alternada, escrevemos uma carta quinzenal, publicada sempre às terças-feiras. Convidamos você a acompanhar essa troca.
